7.2.10

Pinguim na Cidade Baixa: nunca mais.

**** NOTA: Trouxe esse post do blog velho (no Wordpress) porque não quero que estas informações sejam perdidas num blog abandonado. Muito pelo contrário, quero que a informação se espalhe como uma praga. Então, isso é uma republicação.
(o post original com seus comentários aqui.) ****


Tarde da noite, ao tentar entrar de carro na garagem me deparo com a seguinte cena: um jovem caído, tonto, com corte profundo na boca, de onde saía sangue. Várias pessoas na volta.

Assalto, briga de rua, incompatibilidade entre cheiração de cola e a lei da gravidade...

Não.

O rapaz tinha sido abatido com uma porrada na boca por um dos garçons-jagunço do bar Pinguim.

E quando eu digo abater é porque (tinha acabado de acontecer) o rapaz ainda estava caído no chão, sem noção exata do que tinha acontecido, inclusive demorando a entender que o sangue saía dele mesmo, tamanha a violêncio do acontecido. O garçom correu atrás do cara, deu a porrada certeira, derrubou a vítima e a deixou estirada e sangrando, quando outras pessoas da garagem vieram socorrê-lo, e voltou tranquilamente para o bar. "Mais uma Polar chefia? Deixa pra mim!".

O porquê da agressão. Um punhado de batatas fritas.

Sim, segundo o agredido, ao ver que algumas moças se preparavam para ir embora deixando boa parte da porção de batatas fritas, pediu para pegar algumas e foi atendido. Porém, ao que se sabe o garçom não aprovou a idéia, e se sentiu no direito de tomar a atitude que bem entendesse. A carar do garçom ao ver tudo de longe era uma mistura de despreso total e auto-afirmação. Juro que podia ouvir no olhar: "É, mandei bem."

O garçom-leão-de-chácara era visivelmente mais forte e mais velho que o agredido, que aparentava ser um guri pra mim, mas que poderia ter entre 15 ou 20 anos, não saberia precisar.

Como se sabe, é inútil tentar dialogar com animais, especialmente os ferozes. Por isso evitamos (no plural porque a essa altura eu já me incluía no grupo de pessoas da cena interessadas em saber mais, no mínimo) tentamos o gerente. Depois de ignorados algumas vezes, com grosserias de outros atendentes, finalmente fomos atendidos por alguém que se identificou como o proprietário do bar.

Eu estava ali para ouvir o que o dono do bar teria a dizer sobre o ocorrido, que ele acabara de tomar conhecimento, inclusive. Realmente ele não tinha nada de minimamente inteligente a dizer, e em duas frases logo de cara já demonstrou sua postura de esperto: "é, vocês ficam pegando as coisas da mesa, daí acontece isso daí mesmo". Notem que ele não tinha visto absolutamente nada, e sequer ainda tinha ouvido a parte onde o agredido falou que pediu antes de pegar.

Na verdade ele não estava nenhum um pouco interessado em nos ouvir ou dar uma posição de responsável sobre o estabelecimento, como se apresentou, e visivelmente dava como resolvida e bem encaminhada a situação que foi solucionada com uma agressão covarde na rua, na frente de várias testemunhas (eu cheguei logo após o acontecido, mas todos os garagistas e outras pessoas viram a cena).

Ele continuou: "em segundo lugar, porque tu não arranja um trabalho!?". Nesse momento não me segurei e intervi, dizendo que pouco importava se ele trabalhava ou não, e sim o fato de ele ter sido abatido com um golpe, por um funcionário seu, e que ele era a vítima nesse momento, e precisava inclusive de um mínimo de cuidados médicos (pontos, certamente). Depois de muita réplica e tréplica, descobri que ele não era feroz, tampouco inteligente. Ele foi até o local falar com alguém recém agredido e ainda sangrando para humilhá-lo, desqualificá-lo e justificar a todo momento a atitude do garçom. Ele claramente defendeu a selvageria, apesar de negar que estivesse fazendo.

Foi um debate tão calmo quanto de alto nível. Sempre que um argumento meu o deixava sem saída, ele respondia com sabedoria: "se tá com pena, porque tu não adota ele?". Um ignorante. Incapaz de alcançar que sua postura ridícula era totalmente incompatível com sua posição, que deveria ser de alguém que, com calma e paciência, reconheceria que houve, na melhor das hipóteses mínimas do universo, uma reação exagerada, violenta, desnecessária e inútil (afinal, ele esperava recuperar as batatas e oferecer a outros clientes?). Não só isso, multiplicou o problema com arrogância e prepotência, pois o agredido, seu amigo e todos que o ouviam simplesmente desistiram de qualquer tipo de conversa. A ignorância transbordava naquela imagem de anta bem vestida que tem um negócio muito lucrativo e não está nem aí pra nada.

A discussão descambou totalmente, até o ponto onde agredido e gerente trocaram ameaças de agressões futuras, ao que o gerente prontamente se posicionou "bate então! bate". Um gentleman, um sábio.

Muitos "infelizmentes" na história toda, um que poderia ter feito grande diferença no final: o agredido não quiz esperar a Brigada Militar chegar, o que acabou realmente acontecendo alguns minutos depois. Poderia se fazer a ocorrência, e deixar a coisa seguir na linha da civilidade. Abriram mão de um direito, tamanha era a indignação e falta de vontade de permanecer e ser mais atingidos com tantas bobagens. Talvez doessem mais que um soco.
Claro que o gerente, sem a presença do agredido, contou uma linda história, onde um destemido funcionário se arriscou para defender as posses e os clientes do estabelecimento. Sem dúvida.

A verdade é que o dono do bar teve desde o início totdas as chances do mundo para resolver a situação de forma muito simples, sem custar nada e protegendo a imagem de seu estabelecimento. Não o fez, estragou tudo no momento que abriu a boca e deixou o dedão do pé construir seus pensamentos. Uma barbaridade, ainda mais porque os agredidos saíram aparentando que um dia irão se vingar. E se der uma merda grande por causa disso, e outras pessoas forem envolvidas, sabemremos quando e quem perdeu a oportunidade de evitar tudo.

Obviamente, de mim, de todos que estavam presentes e de todos os amigos e conhecidos destes que ouviram a história aquele bar não receberá nenhum tostão mais. Não por causa do garçom, nem da agressão talvez, mas por causa da atitude do gerente-dono.

Pouco me importa se isso realmente causará algum impacto ou não em suas finanças. Assim como pouco me importa se as batatas foram doadas ou surrupidas, sendo certo que elas iam para o lixo. O que importa é que o meu dinheiro (meu dinheirinho!) e minha presença jamais serão vistos ali. E convido a todos a fazerem o mesmo.

Update: 27/03/09 20:49
Karina, nos comentários, lembrou de outro tipo de agressão acontecida no bar Pinguim da Cidade Baixa: homofobia (preconceito, discriminação e claro, agressão). Eu lembro quando essa história correu por aqui, e confesso que na época cheguei mesmo a duvidar, mas hoje não tenho nenhuma dúvida. Resolvi pesquisar, e achei:
19.04.05 - Porto Alegre: Grupo SOMOS faz beijaço para protestar contra bar que atacou bissexual.

O grupo ativista SOMOS, de Porto Alegre, realiza nesta quarta-feira, 20/4, protesto em forma de beijaço na porta do bar que discriminou e espancou homem bissexual. Trata-se do bar Pingüim, localizado na esquina das ruas Lima e Silva e República, na Cidade Baixa. Em 24 de março, João Paulo Pontes, 22 anos, bissexual, beijou um homem e uma mulher em frente ao bar. Imediatamente seguranças e garçons do bar Pingüim se uniram para espancá-lo. Pontes levou três pontos na cabeça e deu queixa na polícia pelas agressões físicas e morais sofridas, no Departamento Médico Legal, da Polícia Civil. Gustavo Bernardes, advogado do grupo SOMOS Comunicação, Saúde e Sexualidade, lembra que no Rio Grande do Sul há uma lei específica que veda a discriminação por orientação sexual, além das leis brasileiras que permitem a expressão e a manifestação de afetividade em público e estabelecem penas para toda discriminação de homossexuais e bissexuais. Pontes afirma que a violência certamente não aconteceria se beijasse apenas uma mulher e está disposto a brigar na justiça se for o caso. "É necessário desvelar a hipocrisia da sociedade que trata heterossexuais de uma forma totalmente diferente de bissexuais ou homossexuais. Porque não posso beijar quem eu quiser na rua?", desabafa Pontes.
fonte: Parou Tudo

Deve ser pura coincidência. Com certeza.

Update 2: 22/01/10
Adivinha! Mais coincidência.
Melissa Osterlund achou este post, me avisou por mail e postou em seu blog mais uma história sobre o mesmo tema: violência no Bar Pinguim, Cidade Baixa.
O post Garçom do bar Pinguim agrediu meu amigo porque nos negamos a pagar os 10% OPCIONAIS tem título auto explicativo, e colo um trecho abaixo:
(...)
Disse mais: "então não venham mais aqui". Diante de tamanho absurdo, me dei ao direito pelo menos de chamá-lo de "infeliz". Nisso, terminávamos de pagar (apenas o que consumimos) e DO NADA veio um soco, de outro garçom, na cara do meu amigo. Mal pude entender que não era o mesmo que nos atendia, na hora, porque vi de relance.
(...)

É, isso mesmo. Ali, naquele bar que tá sempre cheio e que todo mundo conhece.

3 comments :

Melissa said...

E eu muito agradeço por reavivar essa história. Morte a esse lugar. Descobri que eles não têm salário fixo, só ganham os 10% (curiosidade).

Sabin said...

É f...
Cara, tua palavra eu respeito. Se falou é porque é isso mesmo.
Já estou repassando pros chegados que frequentam essa bodega.

Unknown said...

Ótimo texto e bem vindo ao blogspot!